ARTIGOS

Sobre o tal do jeitinho

Por Paulo Botelho

A palavra jeitinho é usada no diminutivo para revelar intimidade e simpatia. Segundo o antropólogo Roberto Da Mata, "do ponto de vista cultural, o jeitinho é considerado legítimo para resolver situações aparentemente insolúveis". Esse jeitinho vai além das formas abstratas e universais, tornando as pessoas mais iguais. Sua concepção pode adquirir alguns significados básicos em função de seu emprego: favorecimento, apadrinhamento ou sinecura por parte de governantes, políticos, donos ou dirigentes de empresas, causando raiva naqueles que não conseguem obter os mesmos privilégios. Nesse sentido, o jeitinho é sempre visto como exemplo vergonhoso de uma exceção incabível. E a corrupção - ou roubo - é sempre o pior exemplo de jeitinho como forma de espoliação do patrimônio público ou privado pelas mãos de aproveitadores. O jeitinho pode ser visto como uma espécie de símbolo de esperança em circunstâncias onde a rigidez é a norma; e pode ser considerado, assim, como uma maneira de sobreviver ao cotidiano. E, dessa forma, leis, regras e normas que parecem absurdas passam a ser ignoradas. Em "Esaú e Jacó", Machado de Assis constata: "A ocasião faz o roubo; o ladrão já nasce feito". - É a capacidade de uma pessoa em desorganizar-se para organizar a sua torpeza ou o seu vilipêndio! - É isso.

Das Pás dos Moinhos

Por Paulo Botelho

Ainda um menino, fiquei com a convicção de que Don Quixote foi um sujeito corajoso que saía pelo mundo afora a tentar refazer tudo o que estivesse errado, proteger os desvalidos, impedir a violência e, sobretudo, preservar a vida. Na batalha dos moinhos de vento, Don Quixote e seu escudeiro Sancho Pança chegam a um lugar onde havia mais de sessenta moinhos. E Quixote diz a Pança que dezenas de míseros gigantes estavam por lá e ele iria combatê-los. Mas, Pança sugere a Quixote observar melhor, pois não eram gigantes, apenas moinhos de vento com as suas pás.
Ambientalistas têm um pouco desse Don Quixote. Somos aqueles que insistem em fazer brotar, do chão árido, uma singela flor!
Mia Couto, escritor moçambicano, em seu livro "O Último Voo do Flamingo" tenta entender o que aconteceu com o seu país cuja história coletiva foi consumida pela ganância dos poderosos e, também, pela ignorância cívica de seus habitantes. Ele relata a história dos flamingos que desapareceram, para sempre, de Moçambique; justo esses pássaros reconhecidos como eternos anunciadores da esperança!
Tragédias como a de Brumadinho em Minas Gerais e das enchentes no Rio Grande do Sul não podem mais ocorrer; especialmente quando se tem no comando certas autoridade desprovidas de capacitação técnica e interpessoal.
A natureza - seja ela qual for - tem um certo componente feminino: às vezes não sabe se defender, mas sempre sabe se vingar!
- Das pás dos moinhos à paz na Terra!

Uma certa Mafalda

Por Paulo Botelho

As tiras sobre Mafalda do cartunista argentino Quino (Joaquim Tejón - 1932-2020) foram publicadas em quase todo o mundo e traduzidas para cerca de 25 idiomas. Há algum tempo, Buenos Aires homenageou o seu autor com murais de sua personagem nas estações do Metrô. Mas, quem é Mafalda? - Ela é uma garota de 8 anos que não gosta de sopa! Tem o olhar muito perspicaz e filosófico de um adulto consciente. E está sempre preocupada com o futuro da humanidade deste mundo tão conturbado. Mafalda tem dúvidas e sentimentos de criança, não obstante sua inteligência e refinada ironia. Eis aqui um exemplo de suas tiradas: Uma criança, sua amiga, vai visitá-la: "Olá, como vai?" - "Psiu, fale baixo, estou com um doente em casa!" - "Seu pai está doente?" - "Não!" - "Então é a sua mãe!" - "Também não!" - Mafalda leva a amiga até o seu quarto. - E no berço está o globo terrestre. Aí ela diz: "Ele está doente, um tanto mal, mas nós podemos curá-lo!"
- O humor e a ironia com as palavras é uma forma de tentar anestesiar o coração de uma enorme quantidade de adultos: frieza e insensibilidade. - Difícil de aguentar!

Empresa e Mudança

Por Paulo Botelho

As palavras empresa e mudança estão se transformando em sinônimos; e de uma maneira muito rápida. E quanto mais elas ocorrem, mais o estresse afeta as pessoas. A mudança é um piquenique sem tempo para terminar. Apesar da excitação que causa, é provável que um dirigente possa esgotar a sua capacidade de absorção e não aceite promovê-la. E a reação passa, a meu ver, por 4 (quatro) fases distintas, a saber:
1. Negar. Quando a mudança ocorre, a primeira reação é a de negação imediata. Tal atitude é aquela do avestruz que mete a cabeça na areia!
2. Resistir. Em algum momento o dirigente conclui que a mudança é um erro banal. Mas, essa percepção não significa que ele tem que aceitá-la sem nada fazer. Para alguns - e esses são numerosos - a única mudança permitida é aquela do príncipe Falconieri de "O Leopardo," livro do escritor italiano Giuseppe di Lampedusa: "Tudo deve mudar para que tudo fique como está".
3. Explorar. É a fase em que o dirigente percebe que tem necessidade de pensar novos métodos de trabalho; examinar os aspectos positivos da mudança e decidir em cima de um plano estratégico bem feito.
4. Aceitar, É a fase fundamental; e ela passa a compor o "status quo" da organização da empresa.
Em resumo, fico cá "com os meus botões" a fazer duas perguntas: Onde fica a sabedoria que se perde com o conhecimento; e onde fica o conhecimento que se perde com o desperdício de tempo? - Um doce para quem tem a resposta!

Bach e sua Poesia Musical

Por Paulo Botelho

Poesia musical: é o melhor resumo para a música de Bach (Johann Sebastian Bach (1685-1750). Ele é reconhecido como o maior mestre da harmonia; e com razão. Bach é também um poeta dos mais sublimes; e está entre aqueles que, como Shakespeare, se elevam para muito além do domínio da forma. Suas cantatas não são comportadamente cristãs e nem devotadamente sacras. Elas são apaixonadas, repletas de sentimentos poderosos, arrebatadores, refinados. Com o tempo as fontes ficam cada vez mais próximas. Beethoven, por exemplo, não precisou estudar tudo o que Mozart precisou estudar. Como Bach, eles conseguiam elaborar, mentalmente, suas estruturas musicais; e só as colocavam na partitura uma vez satisfeitos com os resultados conseguidos. - É só ouvir a Nona Sinfonia de Beethoven ou a Flauta Mágica de Mozart! - Eu fico a me perguntar: onde estavam as mães de Bach, Beethoven e Mozart; por quê elas não ficaram conhecidas como eles? - A resposta é simples: Elas estavam muito ocupadas em educá-los! A música de Bach não é um objeto de museu e sim um organismo vivo que, mais de 270 anos depois de sua morte, continua a emocionar. Ela nos fala de humanidade, de dor, de prazer, de reconhecimento, de erotismo, de suingue, de espiritualidade e da simples alegria de viver. - E nela todo ser humano se reconhece e fica melhor, porque transporta a alma para a sociedade dos anjos!

Recado aos Jovens: Mulheres e Homens

Por Paulo Botelho

É apenas um recado; de modo especial aos mais jovens. E não faz tanto tempo. Foi em um dia de Agosto de 2010, que o bilionário Bill Gates, considerado pela revista Forbes como sendo um dos mais ricos do mundo, em uma de suas palestras. A palestra ocorre em uma Escola Básica de Pittsburgh, Pensylvania - USA. Ao chegar lá, Bill tira do bolso da camisa um papel rascunhado à mão; e lê o seguinte, em menos de 5 minutos: "A vida não é nada fácil. Acostume-se com isso. O mundo não está preocupado com a sua autoestima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele antes de sentir-se bem com você mesmo. Se você acha seu professor um idiota, espere até ter um chefe; ele não terá pena de você! Vender jornal velho ou arrumar um serviço de empacotamento, não está abaixo de sua posição social. Antes de você nascer, seus pais não eram tão críticos como agora. Eles só ficaram assim por ter que pagar as suas contas, lavar suas roupas, e ouvir você dizer que eles são ridículos. Então, antes de salvar o planeta Terra para a próxima geração, procure consertar os erros da geração de seus pais. E tente, pelo menos, arrumar o quarto em que você dorme. E seja compreensivo com os cdf's - aqueles que os demais julgam que são uns babacas; existe uma forte possibilidade de você vir a ser subordinado de um deles!"
Ao terminar, Bill Gates agradece a atenção dispensada e deixa o auditório da escola sob discretos aplausos! - Entra em seu Citroen 2001 e vai embora dirigindo-o. - Sábias palavras de um "velho"! - É para serem pensadas, gravadas e salvas no disco rígido do cérebro dos jovens; de modo especial dos mais jovens! - É isso.

Um Certo Gestor de RH

Por Paulo Botelho

Terno azul-marinho de corte em alfaiate, gravata amarelo-ocre, aparência de uns 40 anos, tinha a cara de quem comeu e não gostou, mas de quem continua comendo; e muito! Gestor de RH de uma renomada empresa do ramo metalúrgico, me recebe em sua espaçosa e refrigerada sala numa calorenta tarde de uma sexta-feira. A demonstrar uma falsa cordialidade, diz: "Por recomendação do nosso Diretor de Produção que participou do Curso sobre o Método Seis Sigma ministrado por você na FIESP, mandei chamá-lo para fazer uma avaliação. Estou pensando em realizá-lo aqui na empresa; não me leve a mal, mas você tem 10 minutos para fazer uma exposição aqui comigo!" - Naquele momento, me lembrei do Otávio Gaspar de Souza Ricardo, ex-professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA, que dizia: "Quem não sabe explicar o que faz em 15 minutos é porque não sabe o que faz!" - Mas, em 10 minutos é um desaforo! Por ser um Método que visa descomplicar, concentrei-me em seu alcance sistêmico. Disse que o Método Seis Sigma é um segmento de Planejamento Estratégico concentrado em eliminar erros, desperdícios e retrabalhos. Acrescentei que não é um programa neurolinguístico, mas um sistema que estabelece um status mensurável. - "Não acho que seja isso!" - Ele me interrompe, meio irritado, e começa a se gabar de um MBA em Psicologia Comportamental que frequentou na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Enfatizou que a corrente behaviorista é a mais adequada por produzir melhores respostas frente à globalização. Globalização é o estágio supremo do Capitalismo! - "Obtenho o que eu quiser das pessoas aqui na empresa, através de estímulo-resposta!" - E fiquei a imaginar a quantidade de cenoura que ele distribui por lá! - Situações enredadas como essa servem para demonstrar a dúbia resposta do capitalismo frente à organização do trabalho e dos trabalhadores. Os 10 minutos da minha paciência se esgotaram do jeito que o gestor do RH pretendeu. Na verdade, um sujeito despreparado, medíocre. Os medíocres estão sempre no seu máximo!

A Estação das Folhas Mortas

Por Paulo Botelho

O Outono é a estação de minha preferência. Estação do tempo; e do meu tempo! Está chegando um vento frio pela manhã, e o céu está limpo e o Sol claro e forte. Centenas de sabiás - chamadores de chuva - ficam empoleirados nos fios dos postes das ruas. Acabou o Verão. E os ventos do Outono carregam as folhas caídas das árvores, assim como o tempo vai mexendo com as minhas lembranças. E fico a lembrar da Fazenda Monte Cristo da minha bisavó América Bueno Alves que ficava próxima a Monte Belo ao Sul de Minas Gerais. Guardo para sempre sensíveis lembranças: o gato preto sonolento; o bambuzal ao fundo da casa principal; a talha úmida, maternal, cheia de água fresca; as vacas mansas e o leite a jorrar para dentro do balde; o cheiro fresco das bostas dos cavalos; as árvores frutíferas e os passarinhos saciados! Todavia, o Outono chegou. Vamos ter que fechar as janelas à noite por causa da chuva; e o vento frio vai arrancar as folhas das árvores; e as folhas secas, no dia seguinte, vão ficar no chão. São as folhas mortas, tão bem descritas em apenas em uma das estrofes da composição musical do francês Jacques Prévert: "Les feuilles morts se ramassent à la pelle; les souvenirs et les regrets aussi! (As folhas mortas são apanhadas com a pá; memórias e arrependimentos também!) - É isso.

Problema e Solução

Por Paulo Botelho

A solução de um problema está em um nível superior ao que ele foi criado. Para isso, é preciso saber pensar. Sócrates foi condenado a beber veneno porque quis ensinar os jovens atenienses a pensar. Galileu aprendeu, a duras penas, a pensar em voz baixa. Descartes comentou sobre o seu livro "O Discurso do Método" de 1637: "Ninguém vai comprá-lo porque ele ensina a pensar!" O que isso tudo tem a ver com um chefe (leia-se dirigente)? Muito. Metade da vida de um dirigente é consumida na resolução de problemas. Muita coisa mudou desde os tempos de Sócrates, Galileu e Descartes. A primeira coisa que mudou foi a própria mudança. Ela é mais rápida a cada dia que passa. Uma descoberta nos Séculos 18 e 19 levava cerca de 100 anos para se viabilizar em tecnologia a ser aplicada. Foi o que aconteceu com a máquina à vapor, com a eletricidade e com o telefone. Hoje, o computador já incorpora a tecnologia do amanhã. Por sua vez, a análise de problemas, além de se tornarem mais urgentes e frequentes, desceram na hierarquia das decisões. O Algoritmo, por exemplo, nada mais é que um conjunto de regras e operações definidas e destinadas à resolução de um determinado problema. Só isso. O iluminado compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750) narra o dilema de José do Egito ao definir sua opção por Efraim ao invés de Manassés com a Cantata BWV-89: "Was soll ich aus dir machen?" (O que devo fazer com você?)
É preciso sempre reconhecer: muitas vezes, o problema não é o problema, mas a atitude diante dele!

Trabalho e Saúde

Por Paulo Botelho

Foi em um período de dificuldade financeira pela qual passei que aceitei ministrar a disciplina "Gestão de Saúde no Trabalho" no Curso de Pós-Graduação (Lato Sensu) para profissionais de saúde do Centro Universitário São Camilo. Foram dois anos seguidos de aulas, sem qualquer registro trabalhista: embuste imposto pelos padres dirigentes daquela Instituição. Era pegar ou largar! O meu saudoso amigo Paulo Vanzolini, cientista e compositor, sempre dizia: "Nunca brigue com gente que veste saia; mulher, padre ou juiz!" A denominada "Ordem Camiliana" é a segunda mais rica da Igreja Católica; a primeira é a "Ordem Franciscana". Os santos Camilo e Francisco, abnegados protetores dos pobres, "sabem" que não estou exagerando!
O trabalho, se mal organizado, provoca no trabalhador desgaste físico e mental quando realizado por movimentos repetitivos em turnos alterados. Isso implica na vida social e familiar do trabalhador; e se converte em diversas e graves doenças.
Do mesmo modo que o capital busca disciplinar e controlar os trabalhadores para garantir a sua voraz reprodução, os trabalhadores resistem a esse controle e se organizam. A partir da década de 1960, surgem importantes lutas operárias voltadas para a melhoria das condições de trabalho. E o reconhecimento de determinadas doenças como doenças profissionais faz parte dessas lutas. Mas, em sociedades periféricas, onde a mão-de-obra é abundante e o desemprego é a grande ameaça, há o risco da automação reduzir a oferta de trabalho; o que põe em questão a luta pela sobrevivência. E é nesse esgoto moral, a céu aberto, que os trabalhadores ficam metidos até o pescoço. O badalado Agronegócio, por exemplo, funciona como funcionavam os engenhos de cana e açúcar no Século XIX, isto é: além de produzir alto impacto negativo ao meio-ambiente, gera, apenas, oportunidade de emprego para uma escassa mão-de-obra especializada. - É a burrice siderúrgica de que mostro em meus textos: combinação de primarismo, oportunismo e estupidez a gerar covardia trabalhista em constante realimentação. - É isso.

Um entre Tantos

Por Paulo Botelho

Era doutor Antonio Carlos o tempo todo naquela multinacional suiça de produtos farmacêuticos. De compleição atlética, pouco mais de 30 anos de idade, olhar imbecilizado, lembrava um pouco o ator americano Sylvester Stallone, desidratado. A empresa adotara para os cargos-chave a aplicação do teste Rorschach. Tal teste, inventado pelo psiquiatra Herman Rorschach, consiste em dar respostas sobre o que se parecem algumas pranchas com borrões simétricos. A partir das respostas procura-se obter um quadro da personalidade e da inteligência das pessoas em análise. - Enorme pretensão! Embora a aplicação do teste estivesse sob a responsabilidade das psicólogas do RH, o Antonio Carlos queria tomar conhecimento de todos os resultados das aplicações; acho que mais por curiosidade ou para demonstrar quem mandava no RH! Eu fora convidado pelo Matsuo Tanaka, Diretor de Produção daquela empresa, a assumir o cargo de Coordenador de Desenvolvimento Operacional. - E, claro, tive que me submeter ao teste. Alguns meses depois da minha admissão, Tanaka me disse que o Antonio Carlos ficou "p. da vida" com a minha contratação porque o resultado do "meu Rorschach" indicava que tenho tendência ao autoritarismo, além de quociente de inteligência abaixo dos níveis estabelecidos pela "descrição do cargo". Todavia, o tempo passou; e consegui fazer com que a empresa avançasse, a partir do comprometimento dos funcionários em produtividade e qualidade que estabeleci como meta empresarial. Passados quase 3 anos, pedi demissão para ir compor a equipe de desenvolvimento do Projeto Bandeirante: Avião bimotor para curta distância que deu origem à Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A - Embraer. Já tem algum tempo, eu soube que o Antonio Carlos vende e executa uma porcaria de programa de treinamento de executivos intitulado "Liderança Situacional" de enorme sucesso. Entretanto, entre tantos, a colocar em funcionamento a máquina sugadora de energia corporativa.- É isso.

Não é só preencher formulário

Por Paulo Botelho

Poucas são as avaliações de desempenho bem feitas nas empresas. Em geral, além de mal descritas, sem critérios significativos, raras vezes merecem a devida atenção. Em consequência, não proporcionam retorno positivo aos chefes (leia-se gestores). O processo de avaliação pode revestir-se de muita apreensão de ambos os lados da equação: avaliador e avaliado. De modo geral, o avaliador não dá a devida atenção à tarefa; e o avaliado, tampouco recebe orientação. Além disso, uma tensão subjacente permeia todo o processo de avaliação em decorrência do fato de que a maioria das empresas vincula aumentos salariais às avaliações de desempenho. O processo vai além de um formulário que o gestor recebe do RH para preencher. Na verdade, o processo de avaliação de desempenho tem início no dia da contratação do funcionário; e não termina no dia de uma promoção, de uma transferência de área de trabalho ou de uma demissão. A totalidade do processo abrange a fixação de objetivos, de controles e de apoios. Se o gestor fez essas tarefas antes dos encontros de avaliação de cada funcionário, com toda a certeza tais encontros serão agradáveis ao invés de algo decepcionante para ambas as partes. É necessário deixar claro, em conclusão, que é grande a quantidade de avaliadores que têm raciocínio estereotipado, isto é: convicção preconcebida a respeito dos outros. Pessoas assim não são capazes de avaliar coisa alguma!

Quando se perde a Produtividade

Por Paulo Botelho

A perda da produtividade nas empresas ocorre por deficiência em habilidades de chefes (leia-se gestores) e de funcionários. Resulta em prejuízos da ordem de US$ 100 milhões/ano; em quase todo o mundo. – E o Brasil entra com 20% desse valor. – Por que isso ocorre? – Porque é gigantesco o número de pessoas que não entendem os sinais de avisos de perigo; instruções de higiene e segurança do trabalho; orientações sobre processos de produção; procedimentos e normas técnicas da qualidade de serviços, além de negligência dos valores da organização empresarial. – É aí que estão os pontos vulneráveis de tantas empresas. – Mas, o que são valores? – São princípios que orientam as atividades e operações de uma empresa, independente de seu porte ou ramo de atividade. – Os seus gestores devem demonstrar, na prática, que os sistemas e procedimentos são respeitados e coerentes com os compromissos assumidos com os clientes. – Se não for assim, os resultados passam a ser desastrosos. – Temos no Brasil exemplos de doer causados por incapacidade técnica e interpessoal que impedem o respeito aos valores estabelecidos. – Por que isso acontece? – Porque prevalece a “lógica” de vender o produto ou serviço a qualquer custo. – Tem marca registrada. – Busca-se transformar vendedores em marca de desodorante combinada com o palavreado mercadológico. – Vender (o verbo) e dignidade (o adjetivo) nunca se deram lá muito bem! – Apenas uma coisa conta nesse “marketing integrado”: fazer com que clientes assinem na linha pontilhada do pedido. – Ao voltar para a empresa, após as visitas e com os pedidos “devidamente extraídos”, os vendedores ganham pontos para a disputa de concursos promovidos pelo RH: o primeiro lugar ganha um notebook; o segundo ganha um relógio Tissot; o terceiro ganha uma caneta Cross e o quarto ganha um pé-na-bunda!

O Trabalho Remoto

Por Paulo Botelho

Trabalho remoto (ou à distância) é a prática de realizar tarefas em um local que não na sede da empresa. - É a prática do momento; independente do perigo de contaminação pela Covid-19.
Em função da proliferação de computadores pessoais em todo o mundo, tanto nas empresas como por meio de home-office; e com a disponibilidade de modems e de softwares, a pergunta é se o gestor (leia-se chefe) permite trabalhar desta maneira. Na realidade, o problema do trabalho remoto não é uma questão de tecnologia, mas sim de desafio em direcionar pessoas que não estão presentes nas empresas. No velho estilo do escritório central, a maioria dos funcionários se encontrava a poucos metros da sala do chefe. Se ele precisasse de ajuda era só ir até a porta de cada um e passasse as tarefas. - Ah, mas eles devem estar no intervalo para descansar e poder fumar! - Sem nenhum problema; o chefe os caçava onde estivessem e, em pessoa, remanejava as suas prioridades. - O trabalho remoto tem mudado isso; quando os funcionários trabalham fora da empresa, não mais se encontram à disposição das ordens e dos caprichos dos chefes! - Eles já estão se acostumando com o novo jeito, isto é: a comunicação a se transformar em mensagens de voz, de e-mails ou de whatsapps. - A interação face-a-face diminui, assim como os sentimentos de união para com a empresa e seus integrantes. - Embora a ideia de funcionários virtuais esteja "pegando" nas empresas, o gestor precisa considerar alguns prós e contras em relação à ideia do trabalho remoto. - Seguem algumas vantagens: Os funcionários estabelecem os programas de trabalho; O gestor pode economizar dinheiro diminuindo as instalações; Os custos de energia, água e outras despesas ficam reduzidos; O moral dos funcionários fica mais elevado. - Veja, a seguir, algumas desvantagens: O controle do desempenho dos funcionários fica mais difícil; O gestor pode precisar investir em equipamentos a serem utilizados pelos funcionários; Os funcionários podem perder o sentimento de união para com a empresa e seus integrantes.
- E aqui fica a pergunta que não me deixa calar: Como apropriar-se do hardware da informática sem intoxicar-se de seu software? - Espero que alguém possa responder!

O que é e o que deveria ser

Por Paulo Botelho

Romualdo, nascido no agreste de Pernambuco, foi meu aluno de Pós-Graduação na disciplina de Engenharia da Qualidade. Inteligente e muito esforçado, trabalhou como Analista Sênior de Produção em uma fábrica de caminhões do ABC de São Paulo e que tem matriz na Suécia. Ele me contou que conseguiu estágio de 2 anos na matriz em Estocolmo; e que nos primeiros dias um colega ia pegá-lo de carro no hotel em que se hospedara. Chegavam, todos os dias, bem cedo à fábrica e o colega estacionava longe do portão de entrada dos funcionários. Depois de vários dias assim, Romualdo não aguentou e perguntou: Se chegamos mais cedo, por que você não estaciona mais perto do portão de entrada? – E o colega responde: Se chegamos mais cedo, temos tempo para caminhar um pouco; e quem chega mais tarde pode se atrasar e ter desconto no pagamento. – Você não acha? Romualdo disse que não sabia onde ia enfiar a cara!
E pensar que em qualquer cidade motorizada deste nosso país, de gente tão metida à besta, é bem ao contrário! Uma pessoa que estaciona em fila tripla para pegar o filho (a) na porta de uma escola age, ainda que em proporção diferente, com a mesma arrogância delinquente do bandido que fuzila o caixa de um banco. – É o que analisa o psiquiatra Jurandir Costa em seu livro “A Ética e o Espelho da Cultura”. Em decorrência, a preocupação com a vida desemboca numa “ética de sobrevivência” que se situa entre “o que é” e “o que deveria ser”.
– A realidade estará onde estiver a atenção dispensada. – Sempre!

Tempo de Travessia

Por Paulo Botelho

O poeta português Fernando Pessoa escreveu que há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm as formas do nosso corpo, e esquecer os caminhos que levam sempre aos mesmos lugares. - Nada mais lúcido, pois é o tempo da travessia. - O novo está à porta!
As pessoas, em geral, têm medo do novo; e de maneira constante têm medo da mudança. Por quê? - Porque preferem manter o seu "status quo" (a sua mesmice), mesmo que seja medíocre.
A inovação é a ferramenta mais apropriada para um empreendedor. Empreender é o verbo mais conjugado hoje em dia. E empreendedorismo é o vocábulo da moda.
Empreender coisas novas (ou fazer coisas velhas de maneiras novas) é o modo com que um empreendedor explora as mudanças como oportunidades. Transformar ideias novas constitui a essência de um empreendimento. - É bem verdade que alguns empreendimentos, às vezes, são arriscados. Mas, é preciso ousar.
Por exemplo: Em uma empresa baseada em inovação e conhecimento, o chefe não pode fazer o serviço de um subordinado, assim como um maestro não pode se ocupar em tocar um instrumento, embora o saiba muito bem. Todavia, eles sabem que música a orquestra precisa tocar; ou que resultado todos precisam obter e que partitura cada músico deve tocar.
- Fica aqui o exemplo, como que para fazer apenas uma comparação. - Simples!

Manda quem pode

Por Paulo Botelho

Ele criou seus personagens molhando a pena no tinteiro, embora já existisse o simples e prático lápis. - Quanto trabalho! Se tivesse escrito em Inglês, ao invés de Português, estaria no mesmo nível de reconhecimento de James Joyce, Edgar Allan Poe, William Faulkner, Scott Fitzgerald ou Ernest Hemingway.
A meu ver, ele é o nosso melhor escritor: Machado de Assis.
Em alguns de seus romances ou contos, Machado considera ser normal o desequilíbrio das faculdades mentais; e que doentes são aquelas pessoas que têm um equilíbrio ininterrupto. Nada mais verdadeiro. Conheci várias; tanto homens como mulheres.
Algumas pessoas têm a maldade na cara, ao contrário de um cavalo de corridas que mostra logo a sua classe, o seu afeto. Descobri, faz tempo, o que pessoas desse jeito me fazem lembrar: quase todas de caráter patológico, exceto outras que eu poderia resumir com um palavrão.
Segundo o psiquiatra americano Paul Babiak, autor do livro "Snakes in Suits" (Cobras de Terno), 47% dos psicopatas estão dentro das empresas; qualquer empresa e de qualquer ramo de atividade. Eles não matam, mas usam seu cargo ou influência para atormentar, humilhar, assediar ou demitir; sem dó, sem compaixão. E chegam a cometer crimes. De acordo com a Consultoria Price Waterhouse Coopers, um terço das empresas sofre perdas significativas, a cada ano, por conta dos psicopatas corporativos. - E eles mandam. Manda quem pode; obedece quem tem prejuízo! - É isso.

Os Vinte por Cento

Por Paulo Botelho

Vilfredo Pareto, economista franco-italiano, nascido em 1848, criou, com absoluta certeza, a importante "Regra 80/20" que pode ser aplicada em inúmeras situações e circunstâncias.
Para melhor entender, ela representa a tendência que prevê que 80% de efeitos aparecem a partir de 20% de causas, isto é: toda causa produz efeito; portanto, efeito é consequência de causa. Por exemplo: a besta da ignorância está embutida em 20% nas pessoas que fazem gerar 80% de maus resultados. Tal besta se apresenta disfarçada de uma linguagem oblíqua, dissimulada. - Faz com que palavras e fatos não se encontrem e percam o sentido e o seu significado. - E, aí, a imbecilidade ganha espaço para produzir efeitos negativos. - Faz com que os "gênios" das proposições desprovidas de resultados positivos tenham que voltar para dentro de suas lâmpadas mágicas!
Estamos a viver (e a sofrer) um tempo de aprofundada desumanidade. - O desumano está presente nos pesadelos que a vida, quando infeliz, pode produzir.
A tortura deste tempo da Covid-19 é filha do poder autoritário representado pelo filhote deste tempo que tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro. Ele não está só: conta com 20% de bolsonóides; algo em torno de 43 milhões de pessoas. - É muita gente!
O deputado Arthur Lira, atual presidente da Câmara dos Deputados, traduz o embuste de manobras e artimanhas que estão por vir. Qualquer esperança de equilíbrio está destinada para as "Calendas Gregas". - É a burrice corrosiva, siderúrgica: combinação de estupidez, ignorância e má fé. Isso representa 20% de causas a gerarem 80% de efeitos devastadores para o país. - É isso.

Ivo viu a Uva

Por Paulo Botelho

Ivo viu a uva. E Hildebrando viu a viúva. E que viúva: muito magra, esquálida; uma trabalhadora rural de mãos calejadas, ainda jovem, mãe de três filhos.
Ela estava naquela tarde cinzenta e fria na agência dos Correios da pequena cidade tendo nas mãos o cartão da Bolsa Família. - Esperava, com paciência, a sua vez de poder sacar o dinheiro do benefício.
Hildebrando Bueno, que tinha ido à mesma agência para despachar uma correspondência, pergunta à viúva por que recebe o benefício só para dois filhos. - "É que o mais velho tem doze anos e não está matriculado para poder estudar; trabalha na marmoraria o dia todo!" - - Diz com tristeza.
Hildebrando, então lembra (lá com os seus botões) da primeira lição do Método de Alfabetização do pedagogo Paulo Freire: "Não basta saber ler que Ivo viu a uva. - É preciso compreender quem trabalha para produzir a uva; e quem lucra com esse trabalho". - E deduz: se o pai do menino, que trabalhou na mesma marmoraria e morreu por ingestão sistêmica de Sílica (matéria-prima para produzir o mármore) - o menino vai ter o mesmo destino do pai: morte por Silicose (endurecimento irreversível dos pulmões)..
"É a morte de que se morre, de velhice antes dos trinta, e de fome um pouco por dia". - Diz o poeta João Cabral de Melo Neto, autor de "Morte e Vida Severina".
Ivo não viu a uva apenas com os olhos; viu também com a mente.
O mundo desigual da viúva pode ser lido com os olhos do opressor e pelos olhos do oprimido. A viúva é a oprimida com os seus três filhos, vítimas de pobreza infame.

Um Lugar para nós

Por Paulo Botelho

Tenho pensado em uma Ecologia Integral de três aspectos essenciais: pessoal, social e ambiental. O aspecto pessoal (ou a paz consigo mesmo) tem como meta a saúde física, emocional, mental e espiritual do ser humano como estratégia para o desenvolvimento da paz.
O aspecto social (ou a paz com os outros) busca a integração do ser humano com a sociedade, o exercício da cidadania e dos direitos humanos ensinados pelo teólogo Leonardo Boff.
O aspecto ambiental (ou a paz com a natureza) vislumbra a integração do ser humano com a natureza.
Sinto uma imensa dor pela natureza. E não é de hoje. Se ela fosse um banco, como o vampirão Bradesco, já estaria sã e salva!
Uma árvore, quando está sendo cortada, sente que o cabo do machado vem dela, embora os predadores queiram\ enganá-la ao utilizar um outro instrumento: a motosserra.
Parar de maltratar a natureza é responsabilidade de todos nós; até que os pedregulhos dos desmatamentos cresçam para se tornarem rochas cobertas de musgos.
Se assim for, haverá um lugar para nós; algum lugar onde não será possível a presença de uma criatura predadora como o Ricardo Salles, aquele ex-ministro do Meio Ambiente de triste e recente memória: burro, arrogante, corrupto e serviçal de Bolsonaro.
Para concluir, chego a pensar (ou a achar) que a natureza tem um certo componente feminino: não sabe se defender, mas sabe se vingar!

O Alazão das Raias

Por Paulo Botelho

Ele se chamava Baloubet du Rouet. Não era um cavalo qualquer, mas um Sela Francês, apropriado para provas de saltos com obstáculo. Um legítimo pulador.
Baloubet nasceu em 1989 e estava aposentado. Vivia em um haras próximo a Lisboa. "Se ele levar um coice da égua na hora do acasalamento, pode ficar aleijado para sempre!" - Foi o que disse seu dono, o português Diogo Coutinho. - Baloubet continuou dando lucro: uma ampola de seu sêmen chegou a custar 6 mil euros. Na verdade, Baloubet estava aposentado só das raias; continuava acasalando e evitando levar coice de égua!
O adestramento desse cavalo foi feito sem maus tratos (esporadas, chicotadas), mas com paciência, alfafa fresca, inhame, aveia e mel.
Montado pelo brasileiro Rodrigo Pessoa, Baloubet foi campeão olímpico de 2004 em Atenas, mas na olimpíada de Sidney, refugou no obstáculo. Ele era o favorito para a Medalha de Ouro, mas refugou e perdeu a Medalha.
Quem viu a cena, não esquece: em seguida ao refugo, Rodrigo apeou e deu um beijo no focinho do cavalo. - O gesto foi muito aplaudido.
Quando contei esse fato para um bestalhão, morador do balneário de Cabo Frio, ele disse: "Ah, se fosse comigo, esse cavalo ia levar uma tremenda surra!" - E falou alto, estridente - entre dentes - a expelir os perdigotos de sua intrínseca covardia!
O Evangelho diz que São Pedro negou a Jesus por três vezes; Baloubet se negou a pular o obstáculo por uma vez. - Ambos continuaram a ser amados pelos seus chefes!
Mas, como o tempo passa para todos os mortais, o tempo passou mais rápido para Baloubet du Rouet. - E o alazão das raias; raio de força e luz, apagou-se ao entardecer de um dia qualquer de 2018 aos 29 anos.

Sobre Adestramento

Por Paulo Botelho

Um tanto arrogante, aparência de uns 40 anos, vestia um terno grafite de corte em alfaiataria, moda sem-gravata. Ao estender a mão em resposta ao meu estender, mal apertou; e observei possuir uma mão delicada, macia, quase feminina. Principal dirigente daquela unidade hospitalar, havia agendado comigo uma conversa sobre palestras de treinamento direcionadas ao pessoal de enfermagem. - "Quero que toda a enfermagem seja adestrada!" - Disse com determinação.
Ao pedir permissão para entrevistar o pessoal, concordou a contragosto. No decorrer das entrevistas, constatei relatos de agressão por parte de acompanhantes dos pacientes. - Uma enfermeira relatou que atendeu uma mulher com dores abdominais. "O marido dela me deu um tapa no rosto porque não a atendi de imediato!" - Disse, segurando o choro. Demonstração de absurda intolerância, além de extrema covardia. - Homem que bate em uma mulher não é homem.
Situações como essa só contribuem para deslocar a atividade de atendimento para um problema de alto risco.
Enorme é a quantidade de palestras (ou cursos) de baixa qualidade a prescrever conteúdo pirotécnico e de efeito placebo ministrados por consultores picaretas.
Após dois dias de entrevistas, fui até a sala refrigerada daquele dirigente e disse que iria propor um outro enfoque ao invés de "palestras de adestramento". - Entretanto, ele não concordou e encerrou o assunto. - Sequer me estendeu de novo aquela mão delicada ao despedir!
Cavalos podem ser adestrados porque só sentem; pessoas comprometidas com as outras não são adestráveis porque pensam e, sobretudo, porque sentem.

Boas Práticas de Produção

Por Paulo Botelho

Boas Práticas de Produção têm sido aplicadas tanto na indústria farmacêutica como na de construção para desempenho de aeronaves. Esses dois ramos de atividades constituem exemplos para quaisquer outros ramos.
Quando um medicamento é dado a um paciente presume-se que contenha os insumos preestabelecidos de forma apropriada; e que produzirá a resposta terapêutica esperada.
"Errar é humano, mas errar em aviação é crime". - Frase que mandamos colocar com grande destaque na parede do hangar de produção quando, em 1970, demos início à fabricação de aviões na Embraer. - É que um rebite mal cravado em qualquer uma das partes estruturais de uma aeronave (fuselagem, asas, flapes, ailerons, empenagem) pode derrubá-la em vôo por estolagem (perda de sustentação). - Não há acostamento!
Boas Práticas de Produção estão baseadas no conceito Kaizen (Kai = Modificar e Zen = Melhorar), isto é: Modificar para Melhorar.
O conceito Kaizen teve origem no Japão em 1950, quando Talichi Ohmo, Professor da Universidade Imperial de Tóquio, concebeu o Sistema de Garantia da Qualidade Total: conceituação que une filosofia, sistemas integrados e ferramentas para a solução de problemas - princípio de que sempre é possível fazer melhor.
Tenho acompanhado, com preocupação, essa ciranda das vacinas contra a Covid-19. - É visível a hipocrisia desses governantes de quase todos os níveis ou status. - Antes da hipocrisia vêm a pobreza de espírito, o primarismo e a estupidez a gerarem covardia em constante realimentação midiática.
O nosso povo trabalhador e sofrido não vai esquecer tanto embuste dos eleitoreiros. - Ele sabe que no Brasil ainda tem muita gente com preparo que pratica produtividade e qualidade voltadas para o bem comum. - É isso.

A Comedeira

Por Paulo Botelho

Mulato, pobre, estudante de Marx e ignorado (pelos ignorantes), mas de enorme talento literário, Lima Barreto, ao escrever sobre a República no Brasil em 1918 - o mesmo e fatídico ano da epidemia da Gripe Espanhola - disse que o país estava sob o regime da corrupção e que todas as opiniões eram impostas pelos poderosos que ficavam muito irritados quando contrariados.
Até hoje tem sido assim; ninguém pode ser contrariado, mesmo nas mínimas e prosaicas relações sociais. - Se uma mulher reclama do marido (ou do projeto de homem) corre o sério risco de ser esfaqueada. - A faca continua sendo o símbolo fálico de homens desajustados, violentos, covardes! Quase ninguém quer discutir; quase ninguém sabe ou quer propor ideias, sugestões, soluções. - E fica-se no bizantino ou naquilo que não apresenta resultados práticos. - Resultados são obtidos pelo aproveitamento de oportunidades e não de oportunismos de protagonistas.
Mas, no fundo, quase todos comem ou querem comer. - Comem ou querem comer certos juízes, desembargadores e ministros com suas excrescências; comem ou querem comer certos políticos pusilânimes; comem ou querem comer certas figuras sinistras do poder Executivo.
E neste momento de tanta aflição e luto, comem ou querem comer os protagonistas que brigam entre si para definir qual é a vacina para combater a Covid-19.
É chegada a hora das carências, das necessidades; é o momento em que o mais voraz - o mais comedor - é o mais primitivo, o mais embusteiro.
- Aos pobres, aos miseráveis, aos excluídos: migalhas, restos!
E aí, eu me lembro da Bruxa de Macbeth de Shakespeare: "Something wicked this way comes! (Vem merda por aí!) - Constrangedor efeito intestinal da comedeira!
Mas, o que falta? - Falta (aos dirigentes) entrar em contato com os 4 princípios básicos do Karatê, arte marcial: 1. Kata (Força) - 2. Kihon (Resistência) - 3. Kumite (Afeto) - 4.Shitsukê (Disciplina).
O que fazer? - Não sei ao certo, além de me dispor a treiná-los, mesmo que seja por EAD - Ensino à Distância. Mas, caso não haja interesse, vou deixar a resposta por conta do Sobrenatural de Almeida, aquele personagem que o dramaturgo Nelson Rodrigues invocava sempre para explicar o imponderável. - É isso.

Sobre Comunicar para Construir

Por Paulo Botelho

A maneira correta de comunicar é que faz a diferença na construção de um empreendimento ou organização empresarial. - E o que vem a ser comunicar para empreender? - É uma estratégia que tem por objetivo o emprego de boas práticas a fim de conseguir resultados. De maneira análoga - ou semelhante - é a pedra angular utilizada nas construções antigas e modernas. Essa pedra é a primeira a ser assentada na esquina de uma edificação, a fim de formar um ângulo reto entre as paredes. A partir dela é que são definidas as colocações de outras pedras para alinhar a construção.
A Catedral de Brasília, por exemplo, concebida pelo arquiteto Oscar Niemeyer e calculada pelo engenheiro Joaquim Cardozo, é uma construção magnífica, genial mesmo. Ela faz parte integrante do Patrimônio da Humanidade. Sua estrutura consiste de 16 colunas simétricas de concreto armado representando duas mãos voltadas para o céu, assim como que em um gesto de súplica a Deus.
Nelson Mandela, a meu ver, foi o homem mais completo do Século XX. Ele ensinou que se você, caro leitor, falar a uma pessoa em uma linguagem que ela entenda, a mensagem entra na cabeça dela; e se você falar, em sua própria linguagem, a mensagem entra no coração dela.
Não são as leituras ou vídeos dos incensados "Gurús da Administração" que podem fazer alguma diferença, mas as conversas "cara-a-cara" com os funcionários de um empreendimento qualquer. Eles sempre têm muito a contribuir com ideias, sugestões.
A maioria dos problemas decisivos de uma organização empresarial não se encontram só nos projetos, programas ou sistemas de trabalho, mas na cabeça dos dirigentes. - Eles precisam ser dotados de duas capacidades: Capacidade Técnica e Capacidade Interpessoal. Assim sendo, esses dois vetores de capacitação passam a funcionar em equilíbrio. Porém, a maioria deles sofre de miopia; não conseguem enxergar a essência da responsabilidade em liderar pessoas com eficiência e visibilidade. - Em "O Pequeno Príncipe", o poeta e aviador Saint-Éxupery escreveu que o essencial é invisível aos olhos; e que só é possível ver bem com o coração. - É isso.

pelas ruas da memória

Por Paulo Botelho

Isolado em um tempo quase que interminável, por conta do Coronavirus, fico a lembrar de esquecimentos importantes que atribuo à desordem das rua da minha memória.
"Os meus pulmões estão endurecendo, mas preciso continuar com o trabalho: tenho fregueses para acudir". - Foi o que me disse Ildefonso, o dono de uma marmoraria situada na Freguesia do Ó - Cidade de São Paulo. Portador de Silicose irreversível, contaminou-se com Sílica, matéria prima utilizada em marmorarias e em siderúrgicas.
Orientei Ildefonso para que isolasse as fontes de poeiras emitidas pelas operações, umedecendo com bastante água todo o ambiente de trabalho, inclusive o ferramental utilizado. Todos os dias.
Quando lá voltei para checar o resultado, Ildefonso só faltou me beijar ao dizer que a orientação dada solucionou o problema. Entretanto, poucos meses depois, tomei conhecimento da sua morte aos 48 anos, vítima de Silicose.
Silicose é uma das tantas doenças do trabalho cada vez mais frequentes. É causadora da degeneração progressiva dos pulmões e do organismo como um todo.
Desde a Revolução Industrial, até poucas décadas passadas, apenas alguns cientistas, que não foram respeitados, alertaram sobre os perigos de contaminação e de desequilíbrio ambiental. - E a resposta, até hoje, é aquela surrada: "Temos que pagar o preço do progresso". - O preço inaceitável é o do risco de contaminação que consiste na difusão dos fatores patogênicos de produção. - Esse risco ocorre pelo emprego de materiais perigosos como Sílica ou Asbestos: contaminadores do ar, da água, do solo e dos seres vivos.
Milhares de trabalhadores têm sido contaminados e mortos. - Eles estão espalhados pelas ruas da minha memória. - É isso.

SOBRE UM ENCONTRO MARCADO

Por Paulo Botelho

Aquele encontro, marcado com antecedência, pareceu aos convocados como que um tanto bizantino, especulativo, nebuloso. Os 28 convocados eram gerentes de agências de um determinado banco. Todos eles estavam na faixa dos 50 anos de idade e com mais de 25 de tempo de serviço. Esse encontro ocorreu na aprazível cidade paulista de Serra Negra em um hotel fazenda. Teve início na noite de sexta-feira e término na tarde de um sábado do mês de março de 2018. Cada convocado passou a ser participante e a portar no peito um crachá com nome e sobrenome.
O banco contratou um famoso e esperto consultor de RH que, por sua vez, foi direto ao ponto: "Aqui estamos para conhecer e participar de um processo de recolocação por meio de outplacement: uma estratégia de planejamento de carreira para o mercado de trabalho. Vocês deverão deixar o banco e suas agências no prazo de 4 meses a partir de hoje". Dito isso, passam a tomar conhecimento do "ganha-ganha" previsto no outplacement. Na verdade, uma solução para demissão inventada pelos americanos e que "pegou" bem aqui no Brasil.
"O como se portar nas entrevistas de seleção" consumiu a noite de sexta-feira e quase todo o sábado.
Já no Café da Manhã, Paulo César, representante da diretoria do banco, procura ser amável e interativo, porém sem sucesso. Senta-se na cabeceira da mesa do Café, tendo ao seu lado o gerente Armando Fragoso Neto. Assim que leu o nome do Armando no crachá, pede, com um sorriso nos lábios: "Armando, por gentileza, me passa o pão e o requeijão".
Baixo, magro e enrugado, Paulo César cultivava uma barba densa e grisalha; no rosto, além da barba, só os olhos revelavam. a um bom observador, como eram fugidios, sinistros.
Armando ficou órfão de pai e mãe com apenas 8 anos de idade. Criado pelos avós, inicia aos 14 anos sua vida profissional indo trabalhar como Office-Boy no banco. E passa a seguir o exemplo do avô: disciplinado e honesto. "Não posso nunca decepcionar o meu avô, pois levo o nome dele". Dizia com frequência. Em 2014, ocorre um assalto na agência do banco. Armando foi o único funcionário a não se deitar no chão, mesmo sob a mira das armas dos assaltantes.
Bem tarde da noite daquele sábado, ao voltar para casa, Armando encontra a mulher um tanto nervosa, a perguntar: "E daí, meu bem, como foi o encontro?" - "Tudo bem, minha flor, eu não vou ser demitido do banco". - "Mas, como você pode ter certeza?" - "Ora, o Paulo César, representante da diretoria do banco, me conhece bem. - Hoje mesmo, no Café da Manhã, ele me pediu para lhe passar o pão e o requeijão. E ainda me chamou pelo nome!"

TUDO PASSA

Por Paulo Botelho

Uma visível contrariedade podia ser observada na cara do goiano Cristóvão, chefe da agência do correio de Muzambinho. Ainda me lembro daquela manhã cinzenta e fria de um dia qualquer de agosto - o mais cruel dos meses do ano. Com pouco mais de l4 anos, um quase rapaz, fui até a agência do correio acompanhado pelo meu tio Luna (Joaquim de Luna Botelho). Luna exercia o cargo de Inspetor Postal Regional dos Correios e Telégrafos com sede em Guaxupé.
A contrariedade do goiano Cristóvão, desafeto do Luna, era porque eu estava sendo designado como auxiliar de telegrafista da agência. Salário: menos de 1/3 do salário mínimo de hoje em dia.
De volta para casa, levando uma apostila do Código Morse, passei a estudar as operações teóricas. Na verdade, eu já aprendera com o Enéas, telegrafista da agência do correio de Guaxupé. Enéas captava tudo de ouvido: não precisava ler as quilométricas fitas das mensagens. Um craque.
Inventado e desenvolvido pelo físico americano Samuel Morse em 1808, o telégrafo já era movido por energia eletromagnética, tanto para curta como oara longa distância. Um operador precisava ler e saber mover os pontos, traços e números para processar uma comunicação telegráfica.
No exercício da função, acabei ficando apto a receber e a expedir mensagem que, por sua vez, virava telegrama. Para completar esse serviço, também tinha a incumbência de fazer as entregas dos telegramas aos destinatários.
Uma pequena quantidade de telegramas era,- com frequência bizantin - destinada a uma rua um pouco fora de centro da cidade. Umas duas ou três casa da rua eram sinalizadas com lâmpadas de cor vermelha nas portas. Nelas viviam moças; moças que a alta sociedade muzambinhense rotulara de "mulheres da vida",
Foi numa entrega por lá é que fiquei contaminado de Crupe: uma doença que provoca inflamação da traquéia, seguida de febre, rouquidão e falta de ar. Resultado de um beijo na boca! Tive que ficar de cama alguns dias. Quase morri. Eu acabara de completar 16 anos.
Curado e de volta ao trabalho, o goiano Cristóvão não perdeu tempo comigo. Resolveu me demitir.
O Luna, quando soube da demissão, me mandou a seguinte mensagem em Código Morse:
"Nossa tristeza vai passar assim como a uva passa!"

TEMPO DE MUDAR

Por Paulo Botelho

"Há um tempo certo para cada propósito debaixo do sol: tempo de nascer, tempo de morrer; tempo de plantar, tempo de colher." Eclesiastes - Cap. 3

Passado muito tempo, fico hoje a lembrar de esquecimentos que atribuo à inevitável desordem da memória; entretanto, não me esqueço de nosso passado de exploração, de pobreza e de autoritarismo. O Brasil parou no tempo. É o mesmo de quando Dom João VI, o rei português, que comia 4 frangos no jantar. Ele chegou com a sua corte no Rio de Janeiro em 1808 e, durante o seu reinado tupiniquim, nada fez pela terra que o acolhera de maneira submissa.
"L' Ávenir dure longtemps" (O futuro dura um demorado tempo) escreveu Louis Althusser, filósofo francês.
O tempo é uma linha de que precisamos para conectar os pontos; e conectar os pontos constitui exigência básica para dirigentes ou gestores de empresas. A maneira de dirigir do jeito "Rocha Imbatível" é daquele que se coloca de forma impassível diante de problemas. Alguns preferem promover mudanças e, ao mesmo tempo, resistem a elas. Isso quer dizer: mudar para nada mudar.
O sujeito ostentava um bigode rabo-de-rato como o do ator mexicano Cantinflas; e tinha uma voz um tanto quanto afeminada. Exigia de seus subordinados ser tratado por Doutor Vicente. Nada podia contrariá-lo, porém, nada podia atualizá-lo.
Dirigentes ou gestores bem-sucedidos descobrem as melhores formas ou métodos para conseguir que projetos e programas de trabalho sejam realizados por meio de metas e objetivos. Metas são resultados abrangentes que uma empresa assume para alcançá-los; metas corretas tornam a empresa mais eficaz. Objetivos são as etapas necessárias para alcançar as metas; objetivos corretos tornam a empresa mais eficiente. É claro que para obtê-los leva algum tempo de trabalho. Em meu entendimento, o tempo é sempre um problema superável, pois o problema do tempo é mesmo o próprio tempo.
Victor Hugo, em sua monumental obra "Os Miseráveis", escreveu que sonhou um sonho em um tempo passado, quando a esperança era alta e a vida digna de ser vivida.

Livros publicados

as quatro faces do tetraedro

"O livro é um recado aos brasileiros que amam o Brasil e não perdem a esperança..." palavras colhidas no Prefácio, de Otonelson E. Prado.

MOINHOS DE VENTO

Este livro trata de diversificados e complexos moinhos a remover: no meio ambiente, na gestão logística, na comunicação empresarial, nos negócios, nas políticas públicas e, sobretudo, nas relações humanas. Trata, de forma estrutural, dos moinhos que insistem em querer triturar o que há de melhor na inteligência humana.

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